30 anos margaridaUma programação realizada entre os dias 05 e 12 de agosto, no município de Alagoa Grande na Paraíba, lembrou os 30 anos de morte da líder sindical Margarida Maria Alves. A sindicalista foi assassinada com um tiro no rosto no dia 12 de agosto de 1983, a mando de usineiros e latifundiários da região do Brejo paraibano, onde ela liderou um forte movimento pelos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais, quando presidia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande. Desde então Margarida tem sido lembrada como um símbolo das lutas camponesas, sobretudo das mulheres agricultoras, emprestando seu nome para a conhecida Marcha das Margaridas, realizada em Brasília, dando nome à Fundação de Defesa dos Direitos Humanos Margarida Maria Alves, entre outras tantas homenagens.

As atividades foram promovidas pelo Instituto Penha e Margarida (IPEMA) e pelo STR de Alagoa Grande em parceria com o Governo do Estado da Paraíba e uma série de entidades como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outras. Maria da Penha, que também empresta seu nome à entidade organizadora, foi outra sindicalista que ao lado de Margarida esteve à frente do movimento de trabalhadores rurais na região.

30 anos margaridaA programação de oito dias contou com mostras culturais, debates em escolas públicas, concursos de redação, exibições de filmes, feiras de produtos agrícolas e artesanato e encontros de jovens e mulheres rurais. Na sexta-feira dia 09 de agosto, a Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) Eleonora Menicucci participou da solenidade de entrega de uma unidade móvel de atendimento a mulheres rurais vítimas de violência em Alagoa Grande.

Ainda dentro da programação, no domingo, 11 de agosto, Maria Leônia Soares, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba e da coordenação do Polo da Borborema, participou de uma das mesas de diálogo do encontro de mulheres camponesas. Ela esteve representando a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) ao lado de representantes da CONTAG e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA): “falamos sobre qual tem sido o papel das entidades da ASA no fortalecimento da organização das mulheres, como elas têm construído a resistência aos inúmeros problemas como a violência, e também da importância dos Programas Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2) para gerar renda e autonomia para as mulheres, além de citar a realização, todos os anos, da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que o Polo realiza em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia”.

30 anos margaridaO encerramento das homenagens aconteceu na tarde desta segunda-feira, 12 de agosto, dia do assassinato de Margarida, com um ato público na praça central da cidade. Estiveram presentes representantes das entidades de trabalhadores rurais, autoridades políticas e personalidades históricas como Elizabeth Teixeira, viúva de João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas, assassinado em 2 de abril de 1962. Aos 82 anos e fazendo questão de falar em pé, Elizabeth lembrou os momentos difíceis que viveu, mesmo após a morte de João Pedro: “Não foi fácil continuar a luta de João Pedro, teve muita perseguição política, fui presa, tive que fugir, abandonar meus 11 filhos, minha filha me dizia, ‘mãe, vão matar a senhora do jeito que mataram painho’, mas eu estou aqui, digo a vocês, não foi fácil, ele morreu sem ver a Reforma Agrária acontecer, mas é por isso que temos que continuar a luta”, disse emocionada, sendo muito aplaudida.

30 anos margaridaOutro momento bastante emocionante foi quando na exata hora de seu assassinato todos fizeram renascer do chão a força de Margarida. Momento que foi seguido pela emocionada fala de seu filho Arimatéia Alves. Ari fez questão de trazer para o público o lado humano da liderança que todos conhecem. Trouxe também a dor daquela criança que aos 8 anos de idade encontrou sua mãe morta e ensanguentada. E por fim, afirmou que só pode entender a morte da mãe quando pode entender sua frase: “é melhor morrer na luta que morrer de fome”.

O Ato de encerramento contou com as apresentações da dupla de violeiras Maria da Soledade e Minervina de Alagoa Grande, da Banda da Polícia Militar, Vital Farias, de poetas, mulheres cantoras e atrizes.